Rafaella Maiello

Psicóloga e Psicanalista

CRP 06/117568

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“Na infância e na vida adulta, vivemos e sentimos, fantasiamos e atuamos muito além dos nossos significados verbais. (…) As palavras podem evocar sentimentos e imagens (…) em virtude de serem sinais de experiência, não de serem, elas próprias, o material principal da experiência.” (Isaac, Susan; Os progressos da psicanálise: A natureza e a função da fantasia; Ed Koogan, 1986, pg 103)

E finalmente, o que estava parado, caminhou.
Não sem esforço, não sem resistência, com procrastinação, com preguiça e com dúvida. Duvidei que terminaria esse quadro, o comprei como forma de presentear meu pai. Ele escolheu a imagem e eu ganhei o passa tempo da pintura. Isso sempre funcionou para mim, a pintura, desde muito pequena eu presenteava familiares com “minhas artes”.
Mas travei nesta, nesta pintura e neste momento, empaquei. Em retrospectiva me dei conta de que estive empacada nesse processo que parecia não ter fim por cerca de 2 anos.
Parece que a coisa andou quando me senti exausta, senti que a vida exigia muito de mim, mais do que achei que poderia dar, terminar de pintar um presente para o meu pai, naquele momento, era demais, não dava conta.
A arte, esse passatempo que sempre me acalmou, me alegrou, como uma “criança feliz” se misturou com as exigências da vida de agora, adulta por assim dizer, em que não mais meus pais cuidam de mim, mas eu sim, cuido deles (e de mim mesma, inclusive). Afinal, em resumo, eu estava resistindo, não queria crescer. Por isso estava tão difícil entregar este presente, esta pintura, não conseguia finalizar.
Me dar conta de tudo isso me travou, que medo deixar de ser filha! Inclusive uma sinusite severa se instalou nesse momento. Fiquei inflamada por esse sentimento de desamparo de ser “gente grande”. Mas afinal, era eu mesma que me exigia demais do meu lado “filha pequena”, como se meu lado “gente grande”, identificado com meu pai dentro de mim, estivesse cobrando demais a “filha pequena”, exigindo que terminasse enquanto eu mesma resistia. Entendam, em nenhum momento foi meu pai, fora de mim, que me cobrava coisa alguma, nem mesmo a pintura de agora. Era eu comigo mesma a partir dele dentro de mim, criando essa batalha difícil de superar, exaustiva. Isso me tornava na minha fantasia uma péssima filha e uma péssima adulta.
Em meio à esta jornada, busquei alguma paz – ainda que com braveza – insisti comigo mesma que teria que terminar a pintura.
A vida sendo vida, encontrei vários obstáculos para concluir. O quadro estava pela metade por assim dizer, as tintas que ainda deveriam ser usadas, secaram. Praticamente todas elas!
Eu tive que lutar com as tintas, busquei formas de recupera-las na internet mas, por incrível que pareça, cada pigmento de cor se comportava de uma forma e a solução que parecia resolver todos os meus problemas, servia apenas para cada uma delas, individualmente.
Tive que pensar em soluções para cada espaço faltante do desenho, inventei cores com um estoque de outras cores antigas, recuperei algumas com água, outras com soro fisiológico, outras com água quente e outras ainda ficaram aguadas demais mudando um pouco a característica da pincelada.
Afinal, consegui. Terminei. Mas o sentimento era de que eu havia recuperado, recuperado minhas forças, recuperado meu ego, recuperei minha criatividade e minha força de vida …. uffa, que bom que a arte salva! Claro que não acaba por aqui, a jornada certamente continua, é uma luta constante sair desse lugar de filho(a), criança pequena, rumo à vida de si mesmo, “adulta” mas, tolerante com as fragilidades e exigências de nós pequenos-adultos.

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Rafaella Maiello

Rafaella Maiello

Sou Psicóloga Clínica formada pelo Centro Universitário São Camilo (2013) e Psicanalista em formação pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). Antes de me dedicar integralmente à prática clínica, construí carreira de oito anos em Recrutamento e Seleção

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