Rafaella Maiello

Psicóloga e Psicanalista

CRP 06/117568

Tudo começou com um pedido simples “pai, você pode cuidar das minhas plantas?”. Poderia parecer um cuidado exagerado da minha parte com as plantas, mas para mim, era importante que elas se mantivessem vivas e saudáveis durante o meu recesso de festas de final de ano. Toda a preocupação com a logística de cuidado me fez atestar de que me tornei uma pessoa que se apega às plantas – pensei comigo mesma de forma divertida “vou levar as plantas para passar férias na casa do meu pai”.
Por que será que me tornei essa pessoa que se apega às plantas? De bate pronto, penso que é reconfortante saber que algo vivo que você dedica tempo e atenção cresce, fica bonita, mais ainda, te dá um tempero para colocar na comida, um fruto, uma flor ou apenas uma folhagem bonita que embeleza a casa. Nesse ponto já fica claro para mim que comecei essa história pensando “é só uma planta” e agora caminho para algo que vai muito além das plantas.
O ato de cuidar, ter zelo, poder estar atenta aos detalhes da rega de cada uma, da terra, de possíveis pragas que acometem as plantas, tudo isso só é possível com um trabalho sensível e afetuoso, ao menos é assim que eu entendo.
Por isso, quando peço para meu pai cuidar das plantas, mesmo que eu não tenha feito esse pedido com tudo isso já pensado, no fundo da minha mente, eu sabia que meu pai entenderia meu pedido neste lugar: cuidar de algo que é valioso para mim e que precisa de atenção, da atenção dele na minha ausência. E claro, isto mantém também a nossa conexão nesse período, é uma “boa desculpa” para me contar como ele está, para eu dizer como estou e no meio disso, contar das plantas.
Quando meu pai aceita esse pedido e me envia o registro de foto como quem diz “já estou cuidando bem delas”, eu entendo que meu pai cuida também de mim, de uma parte minha, e isso me remete às memórias com ele. Como foi importante para mim ter quem valorizasse aquilo que eu considerava importante, hoje são as plantas, mas já foram várias outras coisas.
Este texto não foi de caso pensado e não tem pretensão de ser uma reflexão teórico clínica – não diretamente, ainda que possa fertilizar futuros escritos. No fim das contas, é um texto espontâneo e em sintonia com o meu encerramento de ano em que considero ter cuidado muito bem daquilo que valorizo e daquilo que considero importante. Para além disso, é um texto que me remete à terra, ao solo de onde eu vim, de onde cresci e me desenvolvi e como pude crescer e ramificar por aí, plantando novos vasos e aprendendo novas formas de cuidados, e muitas derivam deste solo.
Acho que este também pode ser o sentido da análise para mim, trabalhar um solo, adubar a vida e entender as relações com as quais crescemos e aprendemos as primeiras formas de cuidado na vida.
Estou registrando aqui e dividindo com vocês meu “insight”, vejam só, como um mero pedido de cuidar das plantas pode se tornar um fio condutor de memória que me leva aos meus primeiros cuidados, a minha trajetória, ao meu encerramento de ano, ao meu processo de análise e assim por diante.
Encerro o ano feliz por poder perceber tudo isto e ver o cuidado nas pequenas coisas.

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Rafaella Maiello

Rafaella Maiello

Sou Psicóloga Clínica formada pelo Centro Universitário São Camilo (2013) e Psicanalista em formação pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). Antes de me dedicar integralmente à prática clínica, construí carreira de oito anos em Recrutamento e Seleção

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