Rafaella Maiello

Psicóloga e Psicanalista

CRP 06/117568

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Falar sobre a duração de tempo de qualquer coisa me parece sempre muito delicado e arriscado por seu caráter amplo de discussões, possibilidades e, portanto, elaborações mil. Mas neste texto, gostaria de frisar uma pergunta recorrente com a qual me deparo de pacientes que buscam o processo de análise, “quanto tempo dura?”, ou “quanto tempo eu preciso de análise para me livrar disto que me incomoda?”.

Freud já dizia que “a pergunta relativa à duração de um tratamento é quase irrespondível.” De início, muitos pacientes já pedem uma resposta pronta para o tempo de duração e seu término, mas é preciso pensar este tempo junto dele, não antes, nem depois. Pensar este tempo não significa estabelecer um prazo pré-definido, mas vivê-lo junto. Esta seria, inclusive, uma boa forma de iniciar o próprio processo de análise que o paciente veio buscar: viver na dupla (paciente e analista) o “não saber” e diante disso, poder criar certa capacidade de tolerar este tempo não definido e essa condição de “não saber”. Nesse sentido, acredito que o processo de análise se trata de uma aposta, do paciente para com o analista e vice-versa. O que quero dizer é que, afinal, quem delimita este tempo é quem veio buscar por ele, o próprio paciente. O analista faz aceitar ao paciente e suportar com ele o que a princípio pode ser insuportável, disponibilizando inclusive, seu tempo, sua agenda para isso.

Sendo assim, o término do processo de análise por parte do paciente não deve ser encarado por seu caráter qualitativo (certo ou errado, pouco ou muito), mas diz das condições dele naquele momento, seguindo adiante ou não, e em que condições está se seguindo. Os motivos que levam os pacientes a encerrarem seus processos de análise são dos mais diversos, desde se depararem com suas resistências muito fortes (ou evidentes) de modo que não é possível “ultrapassá-las” nem ao menos dar um sentido à elas; até sentirem-se menos resistentes do que já foram antes, considerando estarem mais preparados para encarar certas questões ou até mesmo lidar com elas, e, por este motivo, seu processo acabou naquele momento.

É claro que, por parte do analista, já é sabido e esperado que a queixa inicial do paciente muda no decorrer do tempo, ele é levado a outras questões até então não consideradas, por isso, talvez se tenha uma ideia de que estas “aberturas” de novas queixas, aprofundamentos e mudanças são infindáveis, elas não cessam, se renovam. Mas, ainda assim, cabe ao paciente seguir adiante nessa jornada, se aprofundando e se permitindo mudar, ou interromper.

Não tenho intenção de trazer neste caso muitas considerações teóricas para embasar minha elaboração sobre a questão do tempo, mas gostaria de sinalizar algo que me parece importante, que seria um olhar sobre o não controle deste tempo, mas a capacidade de se viver na dupla essa aposta de que, independente do tempo, algo de positivo pode se estabelecer enquanto estiverem trabalhando juntos. Portanto, não cabe aqui se valer da questão quantitativa, mas quem sabe considerar o que pode ser pensado ou experimentado por aquela dupla durante aquele tempo de análise, a começar pelo ato de coragem por parte do paciente em buscar a análise e a confiança que pode se estabelecer na relação. Por ora, pode-se dizer que é pelo vínculo que se estabelece que o processo de análise vai se seguindo ao longo do tempo, tendo seu fim em algum momento.

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Rafaella Maiello

Rafaella Maiello

Sou Psicóloga Clínica formada pelo Centro Universitário São Camilo (2013) e Psicanalista em formação pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). Antes de me dedicar integralmente à prática clínica, construí carreira de oito anos em Recrutamento e Seleção

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