Rafaella Maiello

Psicóloga e Psicanalista

CRP 06/117568

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Uma maior periodicidade de sessões é um dos elementos que compõem, por assim dizer, a psicanálise clássica, sendo os principais elementos: o paciente deitado no divã; o analista sentado atrás do divã (sem contato visual com o paciente); a fala livre do paciente (falar o que lhe vem à mente); a duração da sessão de 45 a 50 minutos; a frequência das sessões de 3 a 5 vezes na semana. Essa configuração de setting (espaço criado entre analista-paciente que inclui acordos como faltas, valores etc) naturalmente sofreu modificações até os dias de hoje. Apesar das modificações, eu diria até adaptações, o método psicanalítico se mantém eficaz, não dependendo destes elementos pré-definidos do setting clássico (não todos eles), mas sem abrir mão da capacidade de escuta profissional, elaborações e intervenções/interpretações.

Estabelecer uma alta frequência de início foi necessário como uma forma de acessar o inconsciente. Freud e os psicanalistas da época, seguiam este método acreditando que só desta forma garantiriam que a fala do paciente pudesse ultrapassar as barreiras do consciente, permitindo acesso aos aspectos mais primitivos e inconscientes da mente. O método se torna pouco usual diante da realidade social atual, o estilo de vida das pessoas e o perfil daqueles que buscam pela psicanálise, sua disponibilidade financeira, dentre outros motivos, fazem com que a psicanálise, imersa na cultura, seja convidada a revisitar e adaptar seus métodos para que se mantenha viva e atuante, sem perder sua eficácia e ética.

Hoje ainda é possível trabalhar com uma frequência maior de sessões, sendo uma escolha do analista em acordo com o paciente. Apesar da maioria das pessoas disponibilizarem apenas 1 vez na semana para realizar a sessão, aqueles que se disponibilizam para mais de 1 sessão, abrem espaço para acessar falas, percepções, pensamentos e ideias mais profundas que favorecem o desenrolar do trabalho psicanalítico. Independente da frequência, para um bom trabalho psicanalítico continua essencial a capacidade da dupla estabelecer um vínculo de confiança e abertura suficiente para acessar os conteúdos inconscientes. Um exemplo atual e bastante comum, são os pacientes que trazem queixas relacionadas ao trabalho, aos relacionamentos, à família etc. De início, nas primeiras sessões, prevalece na fala do paciente o relato desses fatos e acontecimentos, mas também aparecem aspectos e lembranças da sua história que corroboram para a queixa. Nesse momento, podemos considerar que os conteúdos mais conscientes já estão ali, na ponta da língua, esperando ansiosamente por serem ditos. Num segundo momento, aos poucos, é possível fazer uma outra leitura das mesmas falas, trazer outras percepções, questionamentos, etc. Para ir além da fala mais consciente, uma maior frequência pode ajudar, tanto o analista quanto o paciente, podemos imaginar, de forma mais sistemática e ilustrativa que, em uma mesma semana, a primeira sessão contempla mais conteúdos “conscientes”, são os relatos do que aconteceu desde a última sessão naquela semana, ou o desenrolar das queixas iniciais; já na segunda sessão da mesma semana, haveria espaço para mais conteúdos “inconscientes”, mais propício à isso, uma vez que na primeira sessão já se “esvaziou” um pouco das queixas e quem sabe, neste segundo momento, possa se debruçar sobre ela e se pôr a pensar.

Essa é só uma forma de tentar explicar e quem sabe visualizar uma dinâmica que se estabelece entre o funcionamento da fala/mente diante de uma frequência maior, 2 vezes na semana, mais atual e menos clássica, não sendo 4 ou 5 vezes. Os casos que necessitam de mais sessões, a partir de 3 na semana, são consideradas situações (em sua maioria) de uma necessidade maior de acolhimento, de contenção ou até mesmo do próprio interesse do paciente em mergulhar nas questões mais profundas.

Independente da frequência, o ritmo estabelecido pelas sessões de análise, é de extrema importância para organizar fora (na agenda) questões ainda não organizadas dentro (internamente). Ao atribuir este ritmo, é possível seguir navegando em mares mais calmos e a exploração do território inconsciente, segue.

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Rafaella Maiello

Rafaella Maiello

Sou Psicóloga Clínica formada pelo Centro Universitário São Camilo (2013) e Psicanalista em formação pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). Antes de me dedicar integralmente à prática clínica, construí carreira de oito anos em Recrutamento e Seleção

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