Rafaella Maiello

Psicóloga e Psicanalista

CRP 06/117568

“Acrescentar um pouquinho mais de humanidade ao modo como trabalhamos no consultório: preocupando-nos com a recuperação, por nossos pacientes, de sua capacidade de ter interesse e relacionamentos apaixonados, e o estabelecimento, dentro de si, da possibilidade de desenvolvimento da sabedoria” Meltzer, Donald (1992)

O modelo de felicidade em psicanálise, partindo de Freud, tratava-se de um modelo de adaptação. Poderíamos pensar que a felicidade, portanto, dependeria do grau de adaptabilidade das condições internas do sujeito às externas. 

Porém, autores mais contemporâneos, como Bion, entenderam que a  busca pela felicidade não se efetiva pela adaptação e sim pelo desenvolvimento, sendo este um processo interno que necessita da interação constante com pessoas e interesses no mundo externo que evoquem as emoções das relações íntimas (Meltzer)

Bion se propôs a compreender as emoções e o pensamento. Em sua teoria, o significado das emoções está no cerne da questão dos processos do pensar, e pensar sobre as emoções é essencial para o desenvolvimento da personalidade. Bion, portanto, pensou as emoções como elo de conexão das relações íntimas humanas de uma forma geral, entre os indivíduos e dos indivíduos cada qual com seu mundo. Assim sendo, o que caracteriza essas relações humanas é que estas são ativadas por intenções e emoções apaixonadas. Mas aqui, cabe uma ressalva, ao falar de intenções e emoções apaixonadas, falamos destas que possuem qualidade, não àquelas que poderiam remeter ao modelo adaptativo (ao exemplo daquilo que é esperado que seja).

Até então, em psicanálise, as emoções constituintes e conflitantes, ou melhor, em constante tensão eram a pulsão de morte e pulsão de vida, como nomeou Freud, e depois Klein atualiza como a tensão entre amor e ódio (depois inveja). Bion propõe que nesta dialética emocionada humana, a tensão seria entre emoção e anti-emoção, sendo assim: amor e anti-amor; ódio e anti-ódio; e também conhecimento e anti-conhecimento.

Para compreender melhor, “anti-amor” em oposição ao amor seria o puritanismo, uma privação ou impedimento da alegria e prazer nas relações íntimas; “anti-ódio” em oposição ao ódio seria a hipocrisia, nesse caso como exemplo seria odiar aquilo que não se sabe, quase um ódio alheio que na verdade se confunde com uma dificuldade de amar o oposto (odiar tanto o que no fundo se ama, sem poder amar); “anti-conhecimento” em oposição ao conhecimento seria uma espécie de aversão à cultura e ao conhecimento novo, como uma resistência em sair do conhecido rumo ao novo-seja-lá-o-que-for. 

A partir deste pensamento de Bion e da sua teoria, creio que tenha ficado mais claro para quem lê, como ficou para mim, de que o terreno dos conflitos se amplia e mais do que isso, se atualiza, sendo esta dialética de tensão entre as emoções e as anti-emoções algo muito presente nos dias de hoje. A cada emoção, uma anti-emoção, um prato cheio de conflitos. Por fim, a forma como pensamos sobre estas emoções e seus conflitos é o que propicia um tanto de desenvolvimento e um tanto de felicidade.

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Rafaella Maiello

Rafaella Maiello

Sou Psicóloga Clínica formada pelo Centro Universitário São Camilo (2013) e Psicanalista em formação pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). Antes de me dedicar integralmente à prática clínica, construí carreira de oito anos em Recrutamento e Seleção

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